EXPOSIÇÃO CARAVANA DA PAZ
CULTURA CIGANA
A Associação de Estudos e Defesa da Cultura Cigana “Caravana da Paz”, atua na difusão da Cultura Cigana no município de Peruíbe (SP), por meio de ações que visam a quebra de preconceitos e o resgate da dívida histórica de invisibilidade e abandono para com o Povo Cigano. Seus projetos valorizam a diversidade da presença cigana no país; os costumes; as tradições; a identidade cultural; e, principalmente, homenageia os antepassados.
Áudios e Textos de Zíngara Estela Julietti
Fotos cedidas pela Associação Caravana da Paz
INTRODUÇÃO
Pela própria característica de ser um povo alegre, festeiro, criativo, amante da natureza e vaidoso, os ciganos demonstram muita sabedoria, tradição e resistência ao longo do tempo. Muitos, em virtude da sobrevivência, omitem as origens devido ao preconceito existente, adotando o exercício de sua ciganidade em casa e nas festas dos clãs, dos quais jamais se separam. Mesmo pertencendo a uma mesma etnia, os ciganos se diferem na preservação de suas tradições, dialetos e costumes.
A CHEGADA DOS CIGANOS NO BRASIL
Presentes em toda a Europa, Américas, Austrália e Oriente Médio, os ciganos ou “Roma”, têm origem indiana e se subdividem no Brasil em três grupos étnicos: Rom, Calon e Sinti.
Os Calons foram os primeiros a chegarem no Brasil na segunda metade do séc. XVI, tendo sido degredados de Portugal pelo simples fato de serem ciganos. O rei Dom João VI decretou degredá-los para a colônia a fim de evitar a natalidade de ciganos em Portugal.
DISTRIBUIÇÃO TERRITORIAL E CONQUISTAS PÚBLICAS
Atualmente, os ciganos estão distribuídos por todas as regiões brasileiras com uma população estimada em 1 milhão.
Em 2006, o presidente Luis Inácio “Lula” da Silva institui por decreto o dia 24 de maio como o “Dia Nacional do Cigano”, em reconhecimento à contribuição da etnia cigana para a formação da identidade cultural brasileira.
Há lideranças ciganas atuantes na formulação de políticas públicas que assegurem o direito de preservar as tradições, cientes de que o respeito só existirá se a sociedade conhecer os valores e as manifestações do povo cigano.
CRIATIVIDADE E DISPOSIÇÃO PARA AS ARTES E OS NEGÓCIOS
Os ofícios tradicionais podem ser divididos em três categorias: artesanato, comércio e entretenimento. Vendedores, floristas, artistas (músicos, dançarinos, atores, circenses, pintores), costureiras, motoristas, criadores e domadores de cavalos, ferreiros, tacheiros, carpinteiros. Em sua maioria, consequência da vida nômade, onde o cigano carregava consigo, no seu Vurdón, todo o material necessário para, em um pequeno espaço, exercer sua arte e seu ofício. A vida cigana era sempre um eterno recomeçar. Um eterno erguer e desmanchar de lonas. A criatividade e a adaptação são, até hoje, características ciganas bem marcantes.
Outras profissões são méritos daqueles que souberam agarrar as oportunidades de estudo e se tronaram professores, médicos, enfermeiros, advogados e etc..
QUIROMANCIA E CARTOMANCIA
Entre as mulheres, de geração a geração, a arte da quiromancia e cartomancia é ensinada da mais velha para a mais jovem, sendo respeitado o dom do “drabe”, nome dado ao ato de ler as mãos e jogar as cartas. Percebido já na primeira infância, o dom é desenvolvido e transmito às novas gerações antes da morte.
CULINÁRIA
Em viagem, a base da dieta dos ciganos assemelha-se a dos tropeiros: carne seca, feijão, angu, farinha de milho ou mandioca e arroz. No século XIX, em virtude das negociações que mantinham com fazendeiros, o leite e seus derivados foram incorporados à sua alimentação. Entre os ciganos nômades, tanto a mesa quanto os talheres inexistiam, às vezes faltando até pratos, utilizando-se das mãos e de gamelas para fazerem suas refeições. Em alguns grupos as facas eram mais comuns, pois podiam ser usadas tanto para cortar quanto para levar o alimento na boca. Nos acampamentos, os alimentos eram cozidos fixando três paus unidos pelas pontas para formarem uma tripeça, na qual se alocava o caldeirão ou tacho.
ERVAS
As fontes naturais geradoras de energia são apreendidas e respeitadas pelo povo cigano desde muito cedo. As plantas medicinais vêm sendo usadas desde o tempo de seus antepassados por terem papel importante na cura e no tratamento de doenças. Na culinária, na confecção de perfumes, nos óleos essenciais, nos rituais, nos ambientes, nos banhos, são empregadas técnicas naturais compartilhadas em suas vidas nômades.
MOMENTO DE FÉ
“Tocam os violinos, caem às moedas, dançam as ciganas de pés descalços em volta da fogueira, o cheiro forte dos perfumes ciganos, as palmas batendo, louvando o povo de Santa Sara Kali...”
Ser cigano é uma questão étnica e não religiosa. Adaptam-se às crenças e misticismos dos países em que vivem, tendo ciganos de todas as religiões.
Festejada nos dias 24 de maio, a padroeira universal do povo cigano é Santa Sarah Kali, cultuada por adeptos de várias religiões, sobretudo pela proteção à maternidade. Com uma história de fé muito bonita, ela enfrentou preconceito e humilhação, mas em nenhum momento perdeu a fé.
A familiaridade com a natureza, as crendices, as superstições, o dom de oracular e de ler a alma das pessoas através dos olhos estão inseridos na evidente espiritualidade e ancestralidade desse povo.
SEMANA DA CULTURA CIGANA EM PERUÍBE
Lei municipal nº 3.402/2016, dispõe sobre a instituição e inclusão no Calendário Oficial de Eventos da cidade com a finalidade de difundir a Cultura Cigana - Elaborado pela Associação de Estudos e Defesa da Cultura Cigana “Caravana da Paz”, o projeto de lei foi apresentado à Câmara de Vereadores do Município de Peruíbe pela vereadora Mari Laila Tanius Malouli e aprovado em unanimidade na data de 02/03/2016.
O evento conta com diversas atividades culturais, valorizando a diversidade da presença cigana no país. Por meio de ações interativas, traz culinária, danças indumentárias, artesanato, oraculistas e diferentes estilos de música, visando a quebra de preconceitos e contribuindo para resgatar a dívida histórica decorrentes de anos de invisibilidade e de abandono do Povo Cigano.