O grupo Fábrica São Paulo surge em 1983, com uma dramaturgia focada na percepção de como o espaço repercute no espectador, na representação, nas relações humanas. Nosso projeto objetivava ocupar fábricas existentes na zona leste de São Paulo. O ator foi constituído para atuar fora dos palcos e as cenas para ocuparem construções arquitetônicas. Esse desejo deu nome ao grupo.
Líamos Artaud, Malarmé e muito Baudelaire. Adaptações de obras surgiam da noite para o dia, algumas não saíam da escaleta como Estadia no Inferno, de Rimbaud, e Balada da Louca, de Cruz e Souza. Outras tiveram a dramaturgia concluída, projetos finalizados, mas não estrearam, como ocorreu com Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont, criado para ocupar o Tendal da Lapa em 1992.
EM PRETO E BRANCO, 1986, e EXPRESSO EXPRESSÃO, 1983, foram duas das adaptações que saíram da escaleta e estrearam, ambos criados a partir de poemas de Tuponi Costa, querido amigo que não pertencia ao grupo, não por nossa vontade, mas porque se recusava a fazer parte de qualquer coisa. Poeta de palavras virulentas abusava das imagens. Ambos os espetáculos foram idealizados para ocuparem as dependências do Teatro Martins Pena no bairro da Penha em São Paulo. Áreas de serviço, camarins, escadas, foyer, rua, palco e plateia tornaram-se áreas cênicas para as suas criações, o ator atuando no espaço ocupado e o público livre para escolher o ângulo que desejava assistir a cena.
Nessa época, o Teatro Martins Pena era espaço de reuniões voltadas para a organização do Movimento Cultural da Penha – nossa primeira militância organizada nas áreas das artes e da cultura.
Por seis anos, de 1986 a 1992, mantivemos um espaço de trabalho no segundo andar de um antigo cinema no bairro da Penha - antigo Cine São Geraldo. As três salas amplas e a sacada do segundo andar eram, para nós, o local onde tudo era possível. Dentre os espetáculos desse período, PAULA, baseado em textos de Antonin Artaud, foi o mais significativo. As salas, corredores, banheiros e escadas do nosso espaço/sede, reconstituíam a atmosfera vivida por Antonin Artaud no Asilo de Rodez.
No início da década de 90, voltamos a criação para a popularização do nosso trabalho, transpondo para a arena esse ator já preparado para atuar em espaços abertos, normalmente com o público à sua volta. O formato do teatro de arena e a facilidade de levar os espetáculos para qualquer lugar, adaptando-os às mais diversa situações, nos instigou a produzir o que viemos a chamar de CIRCUITO POPULAR DE TEATRO. Inauguramos esta nova fase com O ARQUITETO E O IMPERADOR DA ASSÍRIA, de Fernando Arrabal, direção de Roberto Rosa, com Sérgio Audi e Kátia Cipris no elenco. Nos anos seguintes, com o intuito de aprofundamento na linguagem de arena, a peça foi seguida de duas outras versões: em 1991, com direção de Antônio Januzelli (Janô), e em 1993, com direção de Marcos Antunes Estival, atingindo mais de 450 apresentações.
MACBETH, de William Shakespeare, com tradução e direção de Duda Miranda, e EM ALTO MAR, de Slawomir Mrozec, direção Roberto Rosa, deram continuidade à programação do CIRCUITO POPULAR DE TEATRO que chegava a atingir 100 apresentações por ano. Escolas, sindicatos, praças, sítios históricos eram nossos novos espaços de apresentação. Os oito anos de atividades no CIRCUITO POPULAR estabeleceram nossa relação com o teatro e, principalmente, com a sociedade.
Em outubro de 1998, inicia uma nova fase na Cia. Fábrica: rumamos para o palco. Estreamos A FALECIDA, com direção de Robert McCrea, no Festival de Cantebury, Inglaterra e em janeiro do ano seguinte, partimos para a nossa estreia paulistana em nossa primeira temporada num teatro, o Centro Cultural São Paulo. A FALECIDA foi apresentada mais de 250 vezes, incluindo o Festival de Teatro em Cabo Verde na África.
A parceria com Robert McCrea rendeu a produção de mais um espetáculo. Retomando a tradução feita por Duda Miranda para o CIRCUITO POPULAR DE TEATRO, realizamos um processo de pedagogia teatral patrocinado pelo Projeto Residência Teatral da Secretaria de Estado da Cultura e estreamos novamente MACBETH, dessa vez numa montagem de palco. Participaram desse processo Dani Hu, Hélio Cícero, Madalena Bernardes, Diogo Granato e mais 30 atores estagiários.
Em 2002, a Companhia de Teatro Fábrica São Paulo é contemplada pela primeira vez no Programa Municipal de Fomento ao Teatro para a Cidade de São Paulo e, com a parceria de mais 29 empresas, recupera e incorpora ao patrimônio cultural brasileiro o edifício onde funcionou a Indústria e Comércio de Rádios INVICTUS, primeira indústria brasileira de rádios. Neste antigo galpão industrial, localizado na Rua da Consolação, inauguramos, em fevereiro de 2004, o Teatro Fábrica São Paulo e estreamos PEQUENOS BURGUESES de Máximo Gorki.
Após a estreia de Górki, a Cia. Fábrica volta a suas pesquisas na busca por sistematizar uma dramaturgia construída a partir do ator, suas memórias pessoais e historicidade, resultando na produção dos espetáculos GÊNERO HUMANO e ENSAIO PARA UM ESPETÁCULO. Com o advento do 4º Prêmio de Fomento ao Teatro para a cidade de São Paulo, estreia O OUTRO PÉ DA SEREIA na unidade do SESC Paulista e publica o livro MEMÓRIAS DE OUTRO MAR – PESQUISA ARTÍSTICA DA CIA. DE TEATRO FÁBRICA SÃO PAULO.
A convivência com o filósofo e artista plástico Rubens Espírito Santo, nos instiga a mergulhar com mais profundidade no universo das artes plásticas contemporânea. Do atelier para a cena... O resultado é a montagem do espetáculo A CONFECÇÃO DA QUEDA, contemplado com o prêmio ProCultura/MINC para a produção e circulação do espetáculo.
Em 2016, estreia ANTÍGONAS, espetáculo contemplado com o Prêmio Zé Renato de Teatro com a direção de Mario Santana.
Estudo para Os Cantos de Maldoror, no Tendal da Lapa
Tuponi Costa em EM PRETO E BRANCO
Fachada do Cine São Geraldo
O ARQUITETO E O IMPEADOR DA ASSÍRIA
EM ALTO MAR
A FALECIDA
MACBETH
Fachada do TEATRO FÁBRICA
ENSAIO PARA UM ESPETÁCULO
PEQUENOS BURGUESES
O OUTRO PÉ DA SEREIA
A CONFECÇÃO DA QUEDA